segunda-feira, 23 de junho de 2008

(sem título)

Como é maravilhoso o vento em cima dessas montanhas! Quase posso sentir paz! Olho ao meu redor. Só montantas e mais montanhas. Estou mui bem agasalhado. Armado de adaga, espada, arco e aljava. É tão lindo ver essas montanhas nevadas que se elevam acima das nuvens. Ah, as manadas de nuvens! Como elas me encantam o coração! Depois de tantas lutas travadas, tantas coisas vividas... Meu coração só anseia aquilo que ele talvez nunca mais possa possuir e a única coisa que é possível de se possuir depois de tudo: redenção e paz. Nessa ordem. Existe paz sem redenção dos crimes de guerra? Certamente não. Mesmo os que se comprazem no crime não possuem paz pois sempre estarão esperando o ataque de lugar algum...
Essas montanhas me encantam demais. Quem veio comigo? Ninguém. Esse é meu lugar. Só meu. O local mais alto do mundo a mim pertence. Não o mereço mas aqui estou. Enfrentei a chuva, o vento, a neve, a fúria dos deuses, mas aqui estou. Eu e a lembrança de quem sou e as lembranças do que fiz. O vento continhua soprando maravilhosamente pro meu deleite. Meu cajado me trouxe até aqui. É meu único companheiro nessa viagem em busca de mim mesmo. Logo a noite vai cair e eu terei de montar acampamento. Serei brindado pelo cardume de vagalumes que povoam os campos do infinito. Mais um presente ao meu massacrado coração!
A hora do repouso chegou. Um gole de água pra refrescar; um pouco da vida de outro ser pra sustentar a minha e aqui ficar. Aqui é meu lugar. Se não o fosse, eu não estaria aqui. dormirei com o vento, a lua e as estrelas. Grato sou por essas bençãos inomináveis! Grato sou, embora não merecedor.
Obrigado, grandes senhores dos céus e das montanhas! Obrigado pela sua misericórdia e condescendência pra com esse pobre pecador... Meu mais sincero obrigado.
(som do vento das montanhas na tenda)

sexta-feira, 20 de junho de 2008

(sem título)

O vento sopra a bandeira esfarrapada que está hasteada há muito tempo. A bandeira que representou algum país que pudesse ser promissor.
A bandeira tremulando tristemente; apenas ela nessas terras estéreis compostas apenas por poeiras e esqueletos. Só ela. Uma lembrança. Uma esfarrapada lembrança.
Ela agita-se com o vento sob o crepúsculo do céu vermelho-fúnebre, celebrando a morte da esperança. A última à morrer perdeu sua vida. Se era ela a última a cair, quem mais irá viver?
A úttima a morrer de fato não é a esperança, mas sim a bandeira, -que é testemunha de todas as promessas de bem-aventurança não realizadas-. Contudo, falta pouco pra ela cair sob a fraqueza da haste enferrujada e os ventos que sopram e as chuvas que choram por sobre todos esses escombros, cadaveres e ruínas.
Um dia um transeúnte passará por lá, olhará tal cenário, se perguntará o que a conteceu. Baixará a cabeça e emitirá um leve murmúrio de dor por essas terras e seguirá seu caminho.
Dor e lamento por essas terras, essas vidas perdidas, esperanças quebradas, corações rasgados e toda sorte de maldição que ali contém.
Ele irá chorar, orar e continuar.
Que os Deuses pelo menos conservem o historiador-mor destes vales tristes. Salvem-na, ó, Deuses, a bandeira! Salvem-na! Só ela pode contar o que aconteceu. Só ela lembra. Salvem-na...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Sobre os Ventos...

Sopram os ventos gelados -aqueles que, por excelência-, são os consoladores dos abismos. Lá onde habitam as almas arraigadas nas dores, nas amarguras, na loucura e no desespero incrivelmente arrebatadores.
Terra e rocha fria. Céu vermelho-sangue. Nuvens testemunhas dos vales das sombras. Mesmo o sol, o astro-rei, aquele que se apieda de todo ser vivente se mostra distante ou indiferente de toda desgraça destas terras desertas, de todo consolo ou afago ou esperança. Ele apenas observa a dor e a desolação de seus órfãos solitários.
Mas há quem, -por piedade e amor incondicional-, não abandonam nem essas terras estéreis e quase sem vida ou esses seres malditos, relegados à seus tormentos inimagináveis; e estes são os Ventos. Os Ventos amam mais os homens e todos os seres vivos, bons ou maus, tristes ou felizes, que o sol e a lua, visto que estes revezam seus deveres de serem presentes, ora um, ora outro, como um fardo pesado à cumprir. Mas não os Ventos. Quer seja dia, quer seja noite, eles sempre estão e estarão lá.
Mesmo quando os espíritos encontram-se nas condições mais desesperadoras, ao encontrarem-se encolhidos e acocorados tendo como apoio o ventre do solo rochoso que também os rejeita, quando os soluços e as dores não são mais suportáveis e só cessam por um breve momento quando não há mais o que sofrer e que estes, por algum milagre podem pensar por uns poucos segundos, eles são consolados pelos Ventos e estes sentem, de alguma forma, ao fruírem seu sopro consolador, eles, mesmo dentro de seu choro pesado e doído poderão de alguma forma ter a chance de voltar a viver...